“Agir, eis a inteligência verdadeira. Serei o que quiser. Mas tenho que querer o que for. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de palácio tem qualquer terra larga, mas onde estará o palácio se não o fizerem ali? ” – Fernando Pessoa

Vai parecer um pouco estranho, mas nesse dia da conscientização da esclerose múltipla (EM) eu vou contar um pouco da minha história. Peço licença e desculpas por ocupar um pedacinho do espaço dos meus queridos pacientes.

Sou médica, neurologista e escolhi conviver com a EM desde 2007.

Depois de tantos anos a EM conseguiu me ensinar muitas coisas. Acho que acabei deixando de ser expectadora da doença e passei a “viver” com ela. Vivo cada angústia, cada medo, cada dúvida, cada alegria e cada conquista dos meus pacientes. A esclerose é uma doença que chega sem avisar, adormece quando quer, reaparece quando “dá na telha”. A gente como médico briga diariamente com ela para tentar mantê-la quietinha e assim deixar nossos pacientes em paz. Mas ela insiste em falar um “oi” de vez em quando, por mais que conversemos com ela e peçamos para continuar dormindo!

Ela nos deixa apreensivos, às vezes, mas ao mesmo tempo, quando vemos a recuperação de um surto, a melhora clínica, a estabilização da doença… Como comemoramos, como vivemos cada momento tão intensamente.

A esclerose múltipla nos ensina a sermos pacientes, a prestarmos atenção nos detalhes, a entendermos cada queixa que nosso paciente possa apresentar. Ela nos torna mais fortes, humanos e corajosos (afinal cada tratamento que vamos iniciar é sempre um desafio de coragem). Ela nos faz valorizar a individualidade de cada portador. Ela não tem uma face, tem várias. E precisamos valorizar cada detalhe, para que consigamos lidar com a EM de cada um.

Ela nos mostra que quando formamos uma equipe (médico, paciente, família, fisioterapia, fonoaudiologia, terapia ocupacional) somos muito mais fortes. Nos ensina que juntos vamos mais longe. A EM nos ensina a sermos mais humanos, a lutarmos em conjunto. A estudarmos mais, a buscarmos a cura, a arriscarmos novos tratamentos e acompanharmos de perto cada ganho e cada pequeno detalhe que possa ter trazido alguma melhora aos pacientes.

A EM me deu amigos queridos e cada um deles conquista tanto no seu dia-a-dia, que morro de orgulho! O que sinto por cada um de vocês, meus pacientes e amigos, é admiração, orgulho, alegria. Sei que a estrada não é fácil, mas também sei que cada um de vocês é forte e capaz de se superar, dia após dia.

Então, só queria agradecer. Agradecer a cada paciente que me permitiu me tornar uma pessoa melhor. Agradeço a todo ensinamento, ao exemplo de coragem e por nos tornar médicos da EM muito mais conscientes.

Por Mirella Fazzito, Sócia Diretora da Clínica Araújo e Fazzito, Diretora Científica do Centro de Referência em Esclerose Múltipla e Doenças Relacionadas (CRER), Médica Neurologista do Corpo Clínico do Hospital Sírio-Libanês e Chefe de Neurologia do Hospital da Luz da Vila Mariana, na Grande São Paulo.