Análises de amostras de sangue feitas em 42 pacientes diagnosticados com a síndrome de Guillain-Barré (GBS, sigla em inglês), entre novembro de 2013 e fevereiro de 2014, durante surto do vírus da zika na Polinésia Francesa, oferecem a primeira evidência de que o vírus pode causar a síndrome. Os resultados foram publicados nesta segunda-feira (29) na revista científica The Lancet.

De acordo com o estudo, baseado em dados coletados no país da Oceania, se 100 mil pessoas forem infectadas com a zika, ao menos 24 delas desenvolverão Guillain-Barré.

Para Arnaud Fontanet, do Instituto Pasteur, na França, líder da pesquisa, não há dúvidas de que o vírus da zika causou o surto de casos de GBS. “As ligações são tão fortes como as que existem entre tabaco e câncer”, afirmou à AFP.

Todos os 42 pacientes foram diagnosticados no Centro Hospitalar da Polinésia Francesa, em Papete, no Taiti. “Nós encontramos vestígios da recente presença de zika em 100% dos pacientes com Guillain-Barré”, explicou Fontanet. Testes sorológicos mostraram que 98% deles carregavam anticorpos contra o vírus da zika.

 

Dos pacientes com a síndrome, 16 foram admitidos em unidade de cuidados intensivos do hospital e 12 precisaram de assistência respiratória. Em média, os pacientes ficaram hospitalizados por 11 dias. Quem precisou de cuidado intensivo ficou mais tempo no hospital (média de 51 dias). Três meses após a alta, 24 pacientes foram capazes de andar sem ajuda. Nenhum paciente com a síndrome morreu.

“Esse é o primeiro estudo a observar um grande número de pacientes que desenvolveram Guillain-Barré depois de um surto de zika. A maioria dos pacientes com a síndrome afirmaram ter experimentado sintomas da infecção pelo vírus em média seis dias antes de qualquer sintoma neurológico, e todos carregavam anticorpos da zika”, afirmou Fontanet.

Entre outubro de 2013 e abril de 2014, a Polinésia Francesa viveu o maior surto do vírus da zika já registrado até então. Estima-se que 32 mil pacientes tenham procurado serviços de saúde após suspeitarem da infecção. Desse número, 42 pessoas tiveram diagnóstico positivo para Guillain-Barré. Os pesquisadores excluíram infecções anteriores de dengue, uma doença também prevalente na Polinésia Francesa.

Fontanet admitiu, porém, que os investigadores ainda não conseguiram determinar o mecanismo biológico pelo qual a zika desencadeia a doença degenerativa neuromuscular. Especialistas que não participaram do estudo concordaram que trata-se de uma descoberta importante, embora ainda seja necessário determinar o nexo causal com certeza absoluta.

Com 1,5 milhões de casos de infecções de zika já registrados no Brasil e dezenas de milhares em países vizinhos, os pesquisadores alertam que um surto de síndrome de Guillain-Barré pode colocar à prova os dispositivos médicos, especialmente nas periferias das grandes cidades. “Nas áreas afetadas pela epidemia de zika, precisamos refletir sobre o reforço das capacidades de tratamento intensivo”, disse Fontanet.

O Brasil registrou no ano passado 1.868 casos de internação pela síndrome, uma média de mais de cinco internações por dia. Na comparação com 2014, o aumento foi de 29,8%. O aumento está sendo associado ao surto do vírus da zika ocorrido no ano passado no país. (Com agências)

Fonte: UOL – Terra