O que é hidrocefalia?

O termo hidrocefalia é derivado de duas palavras: “hidro” significa água e “cephalus” referindo-se à cabeça.

A hidrocefalia é uma condição na qual o excesso do líquido cefalorraquidiano (LCR) acumula-se dentro dos ventrículos (cavidades contendo líquido) do cérebro e pode aumentar a pressão dentro da cabeça. Apesar da hidrocefalia ser frequentemente descrita como “água no cérebro”, a “água” é na verdade LCR, um líquido claro que envolve o cérebro e a medula espinhal.

O LCR tem três funções essenciais: 1) ele age como um “amortecedor” para o cérebro e a medula espinhal, 2) atua como um veículo para a entrega de nutrientes para o cérebro e a remoção de resíduos; e 3) flui entre o crânio e a coluna vertebral para tentar reduzir as mudanças na pressão de dentro do cérebro. A hidrocefalia pode ocorrer em qualquer idade, mas é mais comum em crianças e adultos de 60 anos ou mais. Segundo o National Institute of Neurological Disorders and Stroke, acredita-se que a hidrocefalia afete aproximadamente uma em cada 500 crianças. A maioria destes casos é frequentemente diagnosticada antes do nascimento, no momento do parto, ou na primeira infância.

 

Causas comuns de Hidrocefalia

Apesar de rara, a hidrocefalia pode ser herdada geneticamente ou pode estar associada a distúrbios do desenvolvimento, incluindo a espinha bífida (defeito congênito da coluna vertebral) e a encefalocele (hérnia no cérebro). Outras causas podem incluir sangramento dentro do cérebro, tumores cerebrais, traumatismos cranianos, complicações de parto prematuro como hemorragia, ou doenças como a meningite ou outras infecções. Em alguns casos, o fluxo normal de líquor dentro do cérebro é bloqueado, resultando em acúmulo de líquido.

Sintomas de hidrocefalia variam muito de pessoa para pessoa. Alguns dos sintomas mais comuns estão listados abaixo como referência.

Sintomas de hidrocefalia em bebês
Aumento anormal da cabeça; a moleira é tensa e abaulada; couro cabeludo mais delgado; ossos separados na cabeça do bebê; veias do couro cabeludo proeminentes; vômitos, sonolência, irritabilidade, desvio para baixo dos olhos do bebê; convulsões; ou falta de apetite.

Sintomas de hidrocefalia em crianças
Aumento anormal da cabeça, dor de cabeça, náuseas, vômitos, febre, visão turva ou dupla; equilíbrio instável, irritabilidade, sonolência; atraso no desenvolvimento para andar ou falar; falta de coordenação; mudança na personalidade; incapacidade de se concentrar, perda das funções motoras sensoriais, convulsões, ou falta de apetite. As crianças mais velhas podem ter dificuldade em manter-se acordado ou acordar.

Sintomas de hidrocefalia em jovens e adultos de meia idade
Dor de cabeça, dificuldade em manter-se acordado ou acordar, perda de coordenação ou equilíbrio, problemas de controle da bexiga, visão prejudicada e perda de habilidades intelectuais que podem afetar o desempenho no trabalho e os relacionamentos pessoais.

Sintomas de hidrocefalia em idosos
Perda de coordenação ou equilíbrio, marcha instável, perda de memória, dor de cabeça, ou problemas de controle da bexiga. A hidrocefalia é frequentemente classificada por faixa etária como congênita ou hidrocefalia de pressão normal. Hidrocefalia congênita refere-se a doenças que são pré-existentes ao nascimento. Principais sintomas incluem dor de cabeça, náuseas, vômitos e sonolência. Hidrocefalia de pressão normal (HPN) é o acúmulo de líquido cefalorraquidiano, que faz com que os ventrículos do cérebro aumentem, com pouco ou nenhum aumento de pressão. HPN ocorre principalmente em adultos de 60 anos ou mais. Pacientes com HPN são frequentemente diagnosticados com doença de Alzheimer ou outra demência, como alguns dos sintomas imitam essas duas condições.

 

Diagnóstico de hidrocefalia

Antes do seu médico recomendar uma opção de tratamento, ele poderá:

  • Rever o seu histórico médico e realizar um exame físico
  • Realizar um exame neurológico completo, incluindo testes de diagnóstico, se necessários
  • Fazer perguntas específicas para determinar se os sintomas são causados ​​pela hidrocefalia

O exame neurológico também ajudará a determinar a gravidade de sua doença. Outros testes, tais como um ultra-som (se o paciente é uma criança), tomografia computadorizada (TC), ou a ressonância magnética (RM) podem ser encomendados. Os testes podem revelar informações úteis sobre a gravidade da doença e sua provável causa.

 

Quando a cirurgia é necessária

Hidrocefalia pode ser tratada de várias maneiras. A origem do problema pode ser tratada diretamente (removendo a causa da obstrução de LCR), ou indiretamente (por desviar o líquido para outro lugar, normalmente para outra cavidade do corpo). Tratamento indireto é realizado através da implantação de um dispositivo conhecido como válvula (derivação) para desviar o excesso de LCR para longe do cérebro. A cavidade do corpo para qual o LCR ​​é desviado é geralmente a cavidade peritoneal (a área circundante dos órgãos abdominais).

Em alguns casos, dois procedimentos são realizados, um para desviar o LCR, e outro numa fase posterior para remover a causa da obstrução (por exemplo, um tumor no cérebro). Uma vez inserido, o sistema de válvula geralmente permanece no local por toda vida do paciente (embora operações adicionais para rever o sistema de shunt às vezes sejam necessárias). O sistema de válvula continuamente realiza sua função de desviar o LCR para longe do cérebro, mantendo assim a pressão intracraniana dentro dos limites normais.

Uma operação alternativa chamada terceiroventriculostomia endoscópica utiliza uma pequena câmera para olhar dentro dos ventrículos, permitindo que o cirurgião crie um novo caminho através do qual o LCR pode fluir.

 

Recuperação

Sua função neurológica será avaliada após a cirurgia. Se os problemas neurológicos persistirem, a reabilitação é mandatória para recuperar as funções. No entanto, a recuperação pode ser limitada pela extensão dos danos já causados ​​pela hidrocefalia e pela capacidade do seu cérebro para cicatrizar.

Porque a hidrocefalia é uma condição permanente, um longo prazo de acompanhamento por um médico é necessário. Testes diagnósticos no acompanhamento, incluindo tomografia computadorizada, ressonância magnética e raios-x, são úteis para determinar se a derivação está funcionando corretamente. Não hesite em contactar o seu médico se sentir algum dos seguintes sintomas no pós-operatório:

  • Vermelhidão, dor, sensibilidade ou inchaço da pele ao longo do comprimento do tubo ou incisão
  • Irritabilidade ou sonolência
  • Náuseas, vômitos, cefaléia ou visão dupla
  • Febre
  • Dor abdominal
  • Retorno dos sintomas do pré-operatório

 

Prognóstico

O prognóstico para a hidrocefalia depende da causa, da extensão dos sintomas, e da oportunidade de diagnóstico e tratamento. Alguns pacientes apresentam uma melhora dramática com o tratamento, enquanto outros não. Em alguns casos de HPN, a demência pode ser revertida pela colocação de shunt (ler tópico de HPN em nosso site). Outros sintomas como dores de cabeça podem desaparecer quase imediatamente se os sintomas estão relacionados com a pressão intracraniana elevada.

Em geral, a hidrocefalia quanto mais cedo for diagnosticada, maior a chance de sucesso do tratamento. Quanto mais tempo os sintomas estão presentes, menos provável que o tratamento seja bem sucedido. Infelizmente, não há maneira de prever com precisão se a cirurgia será bem sucedida, pois depende de indivíduo para indivíduo. Alguns pacientes irão melhorar de forma dramática, enquanto outros vão alcançar um ‘plateau’ ou declínio depois de alguns meses.

Atualmente se dispõe de válvulas de pressão programável, não havendo necessidade de uma nova cirurgia para se regular a pressão do sistema, podendo aumentar ou reduzir a pressão apenas com o advento de um imã, e segundo as necessidades do paciente.

No entanto, mesmo essas válvulas mais modernas podem apresentar mau funcionamento da derivação ou falha. A válvula pode ficar obstruída ou a pressão no shunt pode não corresponder às necessidades do paciente, necessitando de cirurgia adicional. No caso de uma infecção, a antibioticoterapia pode ser necessária. Um mau funcionamento do shunt pode ser indicado por dores de cabeça, problemas de visão, irritabilidade, fadiga, mudança de personalidade, perda de coordenação, dificuldade em acordar ou ficar acordado, um retorno de dificuldades de locomoção, demência leve ou incontinência. Felizmente, a maioria das complicações pode ser tratada com sucesso.