As investigações sobre as consequências da doença no cérebro, tem sido feitas abordando desde os efeitos analisados na fase aguda até as possíveis sequelas neurológicas, relatadas por cerca de 30% dos pacientes que se recuperaram.
Dores musculares, fadiga, falta de sono, depressão, dores de cabeça, confusão mental e dificuldades de memória, são alguns dos sintomas relatados por pessoas que se recuperaram da Covid-19. Boa parte dessas queixas pode ter um fundo neurológico.
O coronavírus pode causar danos no cérebro e no nervo periférico, direta ou indiretamente. Como, por exemplo, os trombos microscópicos e outros fatores que atrapalham a chegada de oxigênio, a invasão de células imunológicas na massa cinzenta e a famosa tempestade de substâncias inflamatórias.
Segundo o médico Neurocirurgião, Drº Antônio Araújo, o coronavírus tem atração pelo sistema nervoso. “Muitos pacientes contaminados tiveram manifestações neurológicas da Covid-19, como a síndrome de Guillain-Barré, encefalomielite disseminada aguda (ADEM), acidente vascular cerebral isquêmico (AVC), trombose venosa cerebral e crises epilépticas.” Afirma.
Ainda de acordo com o especialista, alguns vírus conseguem acometer áreas nobres do sistema nervoso central, geralmente através de duas rotas: avançando por um nervo do corpo ou pelo sangue. Ele comenta, ainda, que o Sars-CoV 2 pode causar comprometimentos neurológicos mais tardios.
É importante que se leve em consideração outros fatores como o tempo de internação do paciente, a necessidade de terapia intensiva e os medicamentos utilizados. Aqueles pacientes que ficaram internados por mais tempo têm mais chance de evoluir com a “síndrome da fadiga crônica”, também chamada de “encefalomielite miálgica”. Ela se caracteriza por exaustão física, mal-estar após exercício, insônia e dores recorrentes.
No caso da memória, cognição e falta de atenção, é importante ressaltar que a região cerebral do hipocampo é particularmente afetada pelo vírus. Essa área é a sede da memória e isso leva à hipótese de que, passada a pandemia, poderemos ter mais casos de doenças como o Alzheimer, por exemplo.
Mas, o especialista destaca que a ansiedade e o estresse podem acarretar as alterações descritas, principalmente insônia, perda de memória e cefaleia.
Dr. Antonio Araújo
Neurocirurgião do Hospital Sírio-Libanês – SP e da Clínica Araújo e Fazzito
Entrevista ao Site/Jornal Gazeta Semanal
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